01 novembro 2006

Midiamorfose no Horizonte do Jornalismo Impresso


Adaptação e sobrevivência tornaram-se palavras chave no jargão da mídia impressa, pois o futuro incerto provoca apreensão.

A
facilidade de acesso a informação com o surgimento e a evolução de novas tecnologias, a competição com múltiplas mídias e suportes, a perspectiva da TV Digital na construção de novos paradigmas e na contribuição para a inclusão digital e a contínua perda de leitores e assinantes ameaçam a existência do jornalismo impresso. Para sobreviver, é preciso buscar maior integração com as diversas mídias, como Internet e Celular, transformar o suporte e personalizar a distribuição do conteúdo, estratégias definidas por especialistas como Midiamorfose.


Impacto
– Mais do que qualquer outra tecnologia ou nova mídia, a Internet provocou uma série de transformações na sociedade, nas relações sociais, profissionais e acadêmicas. E, principalmente, na maneira como lidamos com as informações. A mídia impressa sofreu o impacto. O 57º Congresso Mundial de Jornalismo Impresso, ocorrido em Istambul, em Junho de 2004, revelou que a circulação de jornais cresceu em apenas 35 dos 208 países estudados. Os maiores índices de crescimento foram identificados nos mercados emergentes, especialmente na China. São vendidos, em média, 85 milhões de exemplares diariamente, contra 55 dos Estados Unidos.


Declínio
- Dados do Newspaper Association of America apontam a raiz do problema. O percentual de leitores norte americanos de jornais impressos começou a cair nos anos 40, resultado da competição com o Rádio e a Televisão. Mas o crescimento populacional no país provocou uma elevação da tiragem, camuflando a queda proporcional. Até que, nos anos 90, a circulação declinou em números absolutos. Em 1972, metade dos norte americanos na faixa dos vinte anos tinha o hábito de ler jornais todos os dias. Em 1998, esse número caiu para 20%. Hoje, metade da população lê o jornal apenas uma vez na semana, enquanto 62% lêem aos domingos. E os números continuam a cair.


Tentativas
– Nas últimas décadas, os jornais procuraram meios de manter e atrair novos leitores. Fotos coloridas, formato tablóide, objetividade e simplicidade nos textos, brindes encartados e o uso de pesquisas para identificar o interesse dos leitores não foi o suficiente para mudar o quadro. Soma-se a isso, a elevação de custos do papel e a fuga dos anunciantes. Investimentos mundiais em publicidade cresceram 19% para 201 bilhões movimentados entre 1999 e 2004. A publicidade voltada para os jornais impressos somaram 46 bilhões, uma queda de 18% no período de 5 anos. A publicidade on-line cresceu 283% no mesmo período. Como resultado, a quantidade de jornais em circulação nos Estados Unidos caiu 17% nos últimos 22 anos. No Brasil, a queda foi de 16%, apenas nos últimos quatro anos. Ano passado, o Wall Street Journal reduziu seu tamanho para sobreviver. Por aqui, o Jornal do Brasil adotou o formato tablóide.


Resposta
- Como competir com a velocidade com que as informações são transmitidas pela Internet? O filme Minority Report – A Nova Lei (Minority Report, EUA, 2002) de Steven Spielberg, antecipa a resposta e mostra um jornal, lido por um passageiro do metrô, parecido com um impresso de hoje, contudo, apesar de ter apenas uma página, as notícias são atualizadas em tempo real, vídeos substituem as fotos e as matérias são acessadas com o toque do dedo. O filme pode ser uma ficção, mas a tecnologia é real. Atualmente, várias empresas disputam para ver quem lança no mercado a melhor e mais econômica versão do E-Paper (papel eletrônico). A Phillips, Xérox, 3M, Lucent e Epson, entre outras, desenvolveram suas versões do produto.


Eletrosecagem – A base da tecnologia permite o controle do formato de uma interface confinada de água e óleo colorido, por meio de aplicação de uma tensão elétrica. Na ausência de tensão, o óleo colorido forma um filme plano entre a água e o eletrodo, que é recoberto por uma camada isolante e hidrofóbica. O resultado é um pixel colorido. Quando uma tensão é aplicada entre o eletrodo e a água, muda a tensão interfacial entre a água e o revestimento do eletrodo. Como resultado, o estado sobreposto não é mais estável, fazendo com que a água mova o óleo para o lado. Isto resulta em um pixel transparente ou, no caso de uma superfície branca ser utilizada como substrato, em um pixel branco. O E-Paper é quatro vezes mais brilhante do que os monitores de cristal líquido (LCD) e duas vezes mais brilhante do que as tecnologias emergentes até agora apresentadas ao mercado, além da vantagem de ser uma tela flexível como o papel tradicional.

Distribuição
– O usuário compraria uma tela E-Paper na assinatura do jornal e teria acesso a Internet em conexões sem fio. O jornal no E-Paper seria atualizado em tempo real, com tela sensível ao toque para o usuário acessar as matérias tocando nas chamadas. Para o jornal, o custo com papel, tinta e distribuição seria eliminado, as matérias ficariam livres dos limites de espaço e o jornal chegaria aos assinantes ao mesmo tempo, como nas outras mídias.
Personalização – A revista produzida em Los Angelis, Reason, mostrou o caminho em sua edição de junho de 2004. Na ocasião, os assinantes receberam exemplares personalizados ao extremo. A chamada principal da capa era: “Eles sabem onde você vive!” seguido pelo nome do assinante. A foto da capa mostrava uma imagem de satélite do bairro residencial do assinante com uma circunferência marcando a casa dele. Aquele exemplar continha matérias e propagandas especialmente escolhidas para atender o gosto e o interesse de cada assinante. Portanto, foram publicadas 50 mil revistas diferentes numa única tiragem. A revista teve grande repercussão e o sucesso foi imediato. Em menos de um ano, as assinaturas cresceram em 20%. Os jornais poderiam tirar grande proveito da extrema personalização em suas versões virtuais porque com a Internet é possível rastrear as páginas visitadas por cada usuário, identificando os assuntos de maior interesse individual. Sendo possível responder com edições cada vez mais personalizadas.

Choque de Interesses Entre Rede Globo e o Governo Lula


A Era Lula não trouxe grandes benefícios para a Rede Globo. Há quatro anos, a emissora carioca enfrentava um espiral de dívidas, inclusive com credores internacional tentando decretar a moratória da empresa em tribunais de Nova York. A Rede Globo esperava que o Governo Federal liberasse um empréstimo, via BNDES, tipo à fundo perdido, para saldar suas dívidas. A
gritaria entre os veículos de mídia foi geral. Afinal, a maioria das emissoras de tv e rádio e os jornais impressos também enfrentam suas dívidas. Seguindo essa lógica, se é para ajudar a Globo, é para ajudar a todos, como ocorreu no Governo FHC que sacou milhões em recursos para ajudar os bancos. O Governo Lula não se comoveu com o drama da Globo e vetou o empréstimo. Resultado: A emissora da família Marinho precisou se virar, vendendo suas operações no exterior e também suas participações no mercado de TV Paga, liberando a SKY para o sócio magnata Rupert Murdoch, dono do grupo Fox, e vendendo a Net Brasil para o grupo mexicano Telmex.

No auge do Governo Lula, O Congresso Nacional recebeu o projeto da Lei Geral das Comunicações. Em vários pontos do projeto, existem determinações que contrariam os interesses da emissora carioca. Muito se discutiu o projeto em vários veículos de mídia, inclusive na Globo. Sabe-se que o Congresso foi assediado por diversos lobistas. Resultado: O projeto foi engavetado. Não se fala mais nisso.

O único ponto favorável do Governo Lula para a Rede Globo ocorreu nos últimos meses, com a escolha do Ministro das Comunicações, Hélio Costa, ex-funcionário da emissora carioca. Ao assumir o Ministério, ele agilizou o processo de implantação da TV Digital no Brasil e escolheu o padrão japonês para ser adotado em nosso país. O mesmo padrão defendido pela Rede Globo. O impasse de escolher entre o padrão japonês, europeu e norte americano dura mais de uma década e vem dos tempos de Itamar Franco. Atravessou os dois mandatos de FHC, sem solução. O Governo Lula até acenou com a possibilidade de desenvolver o próprio padrão brasileiro em aliança com a China. Mas essa idéia patinou no momento em que escolheram o novo Ministro das Comunicações. A pergunta que não quer calar: Será que a Globo vai conseguir transferir o modelo monopolista atual para a Televisão Digital? Isso, só o tempo poderá responder.

Governo muda a política de publicidade e enfrenta a Rede Globo


Fonte: Consciência Política

O Governo Lula (o Ministro Luís Gushiken) trava nesse momento uma batalha feroz com a Rede Globo de Televisão. Pela primeira vez, desde que se tornou uma rede nacional de televisão, a Rede Globo enfrenta o maior anunciante, o Governo – e pode perder.

A industria da televisão no Brasil se sustenta num princípio: a Rede Globo de Televisão tem 50% da audiência e 75% da receita publicitária. A “mini-revolução” que o Governo Lula pode provocar é fixar uma nova regra: a cada um segundo a sua audiência. E essa é a batalha que se trava agora.

Em nenhum outro Governo a Rede Globo trabalhou com um cliente tão generoso quanto no Governo Fernando Henrique Cardoso. Ou não foi o presidente Fernando Henrique quem, ao visitar o Projac, disse: “Eu me orgulho da Globo. Eu me orgulho do Brasil”, nessa ordem.

No Governo FHC, a Globo negociava individualmente com cada um dos anunciantes do Governo – Banco do Brasil, Caixa, Correios, distribuidora da Petrobrás. E como era uma rede amiga, irmã, camarada, e porque tem a maior audiência, conseguia dois favores especiais.

A Globo dava menos descontos aos anunciantes do Governo (e a cada um, um desconto diferente; e nem sempre o anunciante com maior volume recebia o maior desconto). E se beneficiava do direito de incluir o carater “político” na mídia: ainda que a audiencia não chegasse a 75%, era como se tivesse. Já que o Ministro Pedro Malan podia falar nos jornais da Globo quando bem entendesse (de preferência com a Miriam Leitão), a fidelidade da Globo ao Governo tinha um premio: ficar com 75% da receita do mercado, com 50% da audiência.

A “mini-revolução” que o Ministro Gushiken pretende fazer é a seguinte:

1) A verba do Governo vai ser distribuida segundo a audiência.
2) A Secretaria de Comunicação do Ministro Gushiken vai comprar toda a mídia de todos os órgãos do Governo.
3) Como é um unico comprador, ela vai poder negociar descontos maiores com as redes de televisão.
4) Vai criar o que chama de “cupom de desconto”. E transferir esse “cupom de desconto” a seus anunciantes: ao Banco do Brasil, Caixa etc. Quando forem negociar com uma rede, em cima da tabela da rede se aplicará o “cupom de desconto” que a Secretaria negociou para todos.
5) Obter o máximo de beneficio para uma verba que é pública.

A Globo argumenta que a política caracterizaria o que se chama de “bureau de mídia”. Essa é uma instituição que existe em países de clima temperado, acima do Equador, mas que, aqui, não floresceu – por causa da Globo. Nos “bureaux de midia”, os grandes anunciantes (Nestle, Shell) compram grandes volumes de mídia de uma vez só e reservam para seus produtos.

O Governo argumenta que não vai montar um “bureau de mídia”, porque não vai reservar espaço nenhum. Cada anunciante (Banco do Brasil, Caixa etc) vai negociar diretamente com a rede. O “cupom de desconto” --- segundo o argumento do Governo -- nada mais é do que o “clube do assinante” do jornal Globo: mostrou a carteirinha, tem desconto. E o que o Governo quer é ser o cliente do Blockbuster: alugou tres filmes, tem direito a mais um. Alugou um, não tem.

No momento, a Globo está isolada. As outras redes parecem gostar da nova política, é óbvio. Com ela, se tornam mais competitivas. E, inspirados pelo Governo, quem sabe os grandes anunciantes privados não fazem o mesmo ? As outras redes sempre disseram que não podiam competir com a Globo, porque a Globo ficava com a parte do Leão. Agora, veremos …

A Globo resiste, mas em termos. A direção comercial da Globo escreveu cartas muito gentis à Secretaria de Comunicação; a batalha se trava em termos elevados. Nas primeiras escaramuças para discutir a tabela com novos números, a Globo só concordou em dar descontos muito baixos – segundo a avaliação da Secretaria --, em programas vespertinos, de baixa audiencia.

-- E se a Globo retaliar editorialmente ?, alguém perguntou.
-- Não acredito, respondeu um alto funcionário da Secretaria, que não quis se identificar. E a Globo também não está no azul, disse.

Paulo Henrique Amorim