15 outubro 2006

Debate das Acusações: Considerações Finais



Fonte: UOL Eleições

No quinto bloco do debate na Bandeirantes, dedicado às perguntas e considerações finais, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) acusou o adversário Luiz Inácio Lula da Silva de manter um comportamento "irônico, arrogante e desrespeitoso". Alckmin fez referência ao que considera "boatos mentirosos" divulgados pela campanha petista sobre o risco de privatizações, num eventual governo tucano. "Fico triste de ver o presidente do meu país mentir no rádio, dizendo que vou privatizar a Petrobras, a Caixa Econômica Federal, os Correios". "Todo o mundo sabe que foram PSDB e PFL que privatizaram o país. Não precisa esconder isso de ninguém. Quando não tiver mais o que vender, vai vender a Amazônia?", retrucou Lula. "Ficar bravo não faz teu gênero, Alckmin. Eu te conheço e não faz teu gênero".

Os candidatos trocaram acusações no tema da educação. Lula questionou o tucano sobre as escolas de lata, a não-participação do Estado de São Paulo na Prova Brasil, sobre a redução de vagas no Ensino Médio e o aumento das reprovações dos estudantes de escolas públicas. Alckmin criticou o governo federal pela demora no envio do Fundeb ao Congresso. Nas considerações finais, Lula afirmou que saiu candidato à reeleição por estar convencido de poder fazer "mais e melhor". "O alicerce está pronto, a parede está levantada, falta o madeiramento e o telhado", comparou, destacando obras em pólos petroquímicos, siderurgias, geração de combustíveis. Segundo Lula, em 20 meses o biodiesel levou emprego para milhares de famílias. Alckmin reiterou seu compromisso com o desenvolvimento. "O PT já teve a sua chance e deixou passar. Tá com a receita errada, de aumentar gasto e cortar investimentos". O tucano afirmou que seu primeiro compromisso, se eleito, será com emprego e renda.

Debate das Acusações: Quarto Bloco


Fonte: UOL Eleições

O quarto bloco do debate entre Lula e Alckmin foi marcado pela mudança em seu formato. Os candidatos tiveram que responder questões feitas por jornalistas do Grupo Bandeirantes. A primeira questão foi feita pelo comentarista Franklin Martins para o presidente Lula, sobre um dos temas mais abordados durante toda a campanha - o fato do petista dizer que não tinha conhecimento sobre episódios importantes de seu governo, como o escândalo do mensalão, e se ele não repetiria esse mesmo erro em um eventual novo governo. Lula disse que o mais importante não é saber ou não o que aconteceu, já que "a lógica da ética não é saber antes de acontecer, e sim punir quando acontecer". O atual presidente disse que vai continuar a punir "companheiros de 30 anos" caso eles se envolvam em atos de corrupção. Citou também a eficiência da Polícia Federal em investigar os casos de corrupção. Falou também que "o Presidente da República não se exime de responsabilidades, mas nenhum presidente ou pai de família sabem de tudo".

Em sua réplica, Alckmin disse que Lula não responde às grandes questões sobre valores porque seu governo é "uma lista telefônica de corrupção", e citou como exemplo a impressão de cartilhas com recursos federais que foram distribuídas em diretórios do PT. Fernando Vieira de Mello propôs a segunda questão, direcionada a Alckmin, sobre a redução da maioridade penal, e falou sobre o assassino de Liana Friedenbach e Felipe Caffé, conhecido como Champinha. Alckmin disse que é contra a redução da menoridade penal, mas é a favor de aperfeiçoar o Estatuto da Criança e do Adolescente, e prever mais de 3 anos de internação em casos graves, e remover os maiores de 18 anos da Febem, com a interrupção da internação ou a transferência para o sistema prisional, mas separado dos presos comuns. Falou também da falta de exemplo que os jovens tem, e que "a impunidade é a mãe de todo tipo de corrupção".

Ao comentar, Lula disse que problema da segurança pública diz que não é apenas político, mas que envolve a família e a sociedade. E falou de investir nos jovens, na educação, e nas oportunidades de emprego. A terceira questão foi feita para Lula por José Paulo de Andrade, que citou uma entrevista de um autor de novelas que disse que o brasileiro tem mais simpatia pelos vilões que pelos mocinhos para saber como Lula retomaria a ética e o exemplo para os jovens do país. Lula não respondeu diretamente e ainda aproveitou para alfinetar a imprensa, que para o petista faz uma cobertura exagerada dos episódios que envolvem seu governo. "Tão grave quanto os problemas do Brasil é a desagregação da sociedade Brasileira", disse o presidente, que pediu a participação de todos para a propagação de bons exemplos que inspirem os jovens, principalmente a divulgação deles na mídia.

O tucano rebateu os argumentos de Lula, dizendo que "quanto a corrupção, o exemplo vem de cima". Alckmin afirmou que Lula não tem autoridade moral para falar sobre assunto depois dos escândalos em seu governo. O ponto mais quente do terceiro bloco foi exatamente a resposta de Lula à afirmação de Alckmin. "Eu tenho autoridade moral porque 60% dos prefeitos envolvidos com os sanguessugas são do PFL e do PSDB, e tenho autoridade moral poque não deixo sem punição os envolvidos com corrupção". A economia foi o tema da última questão, que foi formulada por Joelmir Beting para Geraldo Alckmin. O jornalista queria saber onde, quando e como faria cortes significativos nos gastos federais para estimular o crescimento do país.

Em sua resposta, o tucano disse que o Brasil não cresce pela taxa de juros e que "o governo Lula do PT é a tartaruga, tá parado, tá parado", mas não especificou os cortes que faria. Falou em não desperdiçar o dinheiro do povo e promover a eficiência do gasto público. Para atacar o governo Lula, Alckmin afirmou que a gestão do petista gastou mais em propaganda que em saneamento básico. Lula devolveu o ataque ao tucano em sua réplica. "De gasto em publicidade o Alckmin conhece. É só ver a Nossa Caixa", disse o presidente, fazendo referência a um dos episódios mais explorados na campanha contra o governador de São Paulo. No contra-ataque, Alckmin disse que a política de Lula é a mesma política da gestão Fernando Henrique, só que de maneira equivocada. "O remédio e o veneno são os mesmos, o que diferencia é a dose".

Debate das Acusações: Terceiro Bloco



Fonte: UOL Eleições

Os temas da corrupção e da ética saíram de cena no terceiro bloco do debate dos presidenciáveis na TV Bandeirantes, na noite deste domingo. Os adversários Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) trocaram perguntas sobre administração pública, nos temas da segurança, transportes, geração de energia, entre outros. Primeiro a perguntar, por sorteio, Lula questionou o candidato tucano sobre o calcanhar-de-aquiles de sua campanha, o caos na segurança pública em São Paulo, deflagrado em maio com os atentados atribuídos ao PCC (Primeiro Comando da Capital). O presidente afirmou que, depois de 12 anos de governo do PSDB e PFL, os secretários de segurança e administração penitenciária não se entendiam e "o PCC tomou conta do país".

Alckmin retomou alguns números exibidos anteriormente em sua propaganda eleitoral. Disse que seu governo retirou das ruas 90 mil bandidos, reduziu em 50% os homicídios em São Paulo e construiu 75 unidades prisionais. "O governo Lula só fez uma (cadeia)", provocou o tucano, para quem a polícia de fronteira prometida pelo governo federal "não aconteceu", permitindo o tráfico de drogas e armas no país. "Fizemos a nossa parte. E o candidato Lula?", indagou Alckmin. Segundo o tucano, o governo federal liberou apenas uma pequena parte, 9%, das verbas do sistema único de segurança pública e ainda cortou verbas do setor na maioria dos Estados. Lula acusou o adversário, quando governador, de cortar 15% do orçamento da segurança pública e R$ 67 milhões no setor da inteligência. "Há contradição entre os números que você decorou e a realidade da segurança em São Paulo", afirmou o petista.

Na hora de perguntar, Alckmin fez críticas à política externa brasileira, ressaltando o que considera a submissão do país em relação à Bolívia e também a invasão dos produtos chineses no mercado. "Com a Bolívia o Brasil foi humilhado", disse. Para Lula, "a política externa brasileira é ousada". O presidente citou o aumento expressivo nas exportações no seu governo e disse que a América Latina é hoje o maior comprador do Brasil. "Nos abrimos para a África, para quem os defensores da tua política externa viraram as costas", afirmou Lula. "Esse país conquistou autoridade moral. A Bolívia fez com o gás dela o que todos os países fizeram com o petróleo. O Brasil tem que ser justo com a Bolívia na negociação. Já houve tempo em que a bravata com os países pobres predominava, agora não, agora é parceria".

Lula citou o presidente norte-americano George Bush e disse que Alckmin "pensa ainda que estamos na Guerra Fria". "Se o Bush tivesse o bom senso que eu tenho, não teria a guerra do Iraque. Ele foi avisado. Ele pensava que nem você, Alckmin, e fez uma barbárie dessas". Ao fazer a pergunta para o adversário, Lula chamou o candidato a vice-presidente de Alckmin de "rei do apagão" e perguntou qual a sua proposta para a questão energética brasileira.

Em vez de desenvolver seu programa de governo na área, Alckmin fez críticas ao governo Lula. "O Brasil não cresceu, perdeu oportunidades. O Brasil não tem investimento em geração de energia importante. O Brasil está parado na área de energia. As hidrelétricas do Norte não saíram do papel". As críticas foram rebatidas pelo presidente, que citou a auto-suficiência da Petrobras, comemorada em abril deste ano, e a criação de projetos como H-Bio e biodiesel. Alckmin perguntou sobre a ausência de investimentos nas estradas e disse que apenas no quarto ano do governo Lula houve a operação tapa-buracos, sem concorrência pública. Lula respondeu que o seu governo está restaurando 26 mil quilômetros de estradas e fazendo obras em aeroportos como o de Congonhas, em São Paulo.

"Veja o aeroporto de Congonhas, você poderia me agradecer", afirmou. "Fazemos isso porque o Brasil precisa disso. Quando vocês governaram o Brasil, vocês não acreditavam que o país poderia crescer. Vocês pensavam pequeno, pensavam o Brasil apenas exportando para os Estados Unidos e para a União Européia. E eu quero o Brasil exportando para o mundo inteiro". Para Alckmin, "o mundo do candidato Lula é o mundo virtual. Ele anda de Aerolula, eu fui ver as estradas brasileiras", lembrou. No final do bloco, o presidente e candidato à reeleição pediu ao adversário que reconhecesse os avanços promovidos desde a sua posse, em 2003. "O fato concreto e objetivo é que o Brasil melhorou. Reconheça pelo menos uma vez. As pessoas estão comendo mais, construindo mais".

Debate das Acusações: Segundo Bloco



Fonte: UOL Eleições

O segundo bloco do debate entre Lula e Geraldo Alckmin seguiu o padrão do primeiro, com muitos ataques entre os candidatos. O tucano voltou a falar dos escãndalos de corrupção que ocorreram durante o governo Lula, e insistiu em saber a origem do dinheiro que comprou o dossiê contra José Serra. Já Lula falou de episódios que remontam ao governo de FHC, e questionou: "Por quê não puseram o Fernando Henrique aqui, vergonha?". No início, Lula voltou a falar das 69 CPIs que Alckmin teria engavetado em sua administração. Antes de responder, Alckmin também retomou um assunto do primeiro bloco e disse que não é preciso tortura para descobrir a origem do dinheiro que comprou o dossiê. Sobre as CPIs, o candidato do PSDB citou o regimento da Assembléia Legislativa de São Pauço, que obriga que os pedidos de abertura de investigações devem ser votados em plenário.

Em seguida, Alckmin passou a falar do Rodoanel, que segundo ele é "a obra mais barata do Brasil". Sobre a participação federal nesta iniciativa, o tucano foi enfático ao falar que "o governo do Lula é contra o Rodoanel". Lula ironizou Alckimin, que reclamou que o petista apenas lia as suas perguntas, sem ter certeza das saus afirmações. "Eu não sei se o candidato se incomoda com o fato de eu ler, mas eu vou continuar lendo para não cometer nenhuma leviandade". O tucano voltou a falar sobre os escãndalos de corrupção, em especial do indiciamento de cinco ministros do governo Lula. "Eu não me omito, eu não jogo nas costas do governo as minhas responsabilidades", disse Alckmin sobre a falta de ação do presidente em relação a esses episódios, que chamou de "estranhos".

A reação de Lula foi dizer que "o estranho não é ter ministro envolvidos, o estranho é ter os ministros envolvidos punidos", e citou que o princípio da ética é "cortar na própria carne". Alckmin replicou, e disse que Lula não cortou na carne, já que os ministros não foram demitidos, e sim pediram demissão, e acusou o governo do petista de ser "violento com os pequenos", como o caseiro Francenildo, que teve seu sigilo bancário quebrado após acusar o então ministro da Fazenda Antonio Palocci de participar de reuniões com lobistas em Brasília, e "pequeno e fraco, fraquíssimo", contra os grandes erros de sua administração. Lula disse que o mais importante não é dizer que seu governo não tem corrupção, e sim punir com rigor os corruptos quando eles surgiram.

Debate das Acusações: Primeiro Bloco



Fonte: UOL Eleições

Começou e terminou crivado de acusações o primeiro debate com os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), realizado na noite deste domingo pela Bandeirantes, na sede da emissora em São Paulo. Alckmin partiu para o ataque à ausência de Lula nos debates anteriores já na primeira fala, quando lembrou e agradeceu as presenças de Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT). Segundo o tucano, Lula só compareceu agora por medo de perder a eleição. Lula e Alckmin trocaram críticas mútuas já a partir da pergunta inicial do mediador, o jornalista Ricardo Boechat. Ele quis saber se e como o próximo governo vai cortar despesas para melhorar os investimentos e fortalecer o crescimento econômico. "Vou cortar gasto não da Previdência, mas da corrupção", disse Alckmin, citando também a necessidade de cortes nos ministérios "sem nenhuma razão de ser" e nos milhares de cargos em comissão. Prometeu também cortar gastos nas compras superfaturadas através de bolsa eletrônica e pregão eletrônico, experiências realizadas quando governador de São Paulo. Lula sequer deu boa-noite aos telespectadores. "O meu adversário decora alguns chavões para participar de debates", disse. Segundo o presidente, os partidos dos adversários já governaram muitos Estados e "ficou claro que a única coisa que sabem fazer é cortar gastos naquilo que não poderiam cortar".

"Nós fizemos o país crescer como em nenhum momento da sua história nos últimos 20 anos", afirmou Lula. "Até parece que o governador não estava no Brasil em 2003. Poderia começar me agradecendo. Esse país estava totalmente falido, não tinha crédito, não conseguia controlar a inflação". Lula disse que seu governo gerou 7 milhões de empregos em apenas quatro anos. Na hora das perguntas entre candidatos, Alckmin repetiu a pergunta que vem fazendo desde meados de setembro: "De onde veio o dinheiro sujo, 1,7 milhão em dinheiro vivo, para comprar um dossiê fajuto?" "Faz 30 dias que ele quer saber de onde veio o dinheiro", replicou Lula. "O único ganhador nesse trambique todo foi a candidatura do meu adversário", disse. "A Polícia Federal é muito competente, ela não faz pirotecnia, ela investiga". Lula afirmou que Alckmin possivelmente teria saudade do tempo da ditadura, quando as investigações eram mais rápidas. "Uma investigação séria é demorada. Afastamos todas as pessoas envolvidas, cabe à PF fazer as investigações", disse Lula.

Ao fazer a pergunta, o presidente e candidato à reeleição citou a participação de Barjas Negri, ministro da Saúde que sucedeu José Serra no governo de Fernando Henrique Cardoso, no escândalo dos sanguessugas e da máfia dos vampiros. Negri foi secretário de Habitação do então governador Alckmin. "O candidato sabia ou não sabia das transações obscuras do Barjas Negri?" Alckmin respondeu que os escândalos não diziam respeito ao seu governo. "Não tem uma prova", afirmou. "Quanto ao Barjas Negri, no meu governo não tem absolutamente nada. Se há alguém que não tem moral para falar de ética, é o candidato Lula." Lula voltou à carga e lembrou que no governo do PSDB e PFL em São Paulo, 69 pedidos de CPIs foram engavetadas. "A que preço eu não sei", sublinhou. "Sou de formação pobre, mas da formação de quem não deve não teme". Segundo o presidente, Negri tem condenações provisórias do Tribunal de Contas. O candidato tucano questionou a afirmação de Lula de que não teria tentado impedir a realização de CPIs. "As CPIS só saíram porque o Roberto Jefferson contou a verdade pro Brasil. O governo foi derrotado, por isso é que saíram as CPIs."

Antes do evento, o senador Eduardo Suplicy (PT) lembrou que se trata da primeira vez que um presidente em exercício do mandato se dispõe a debater com um adversário em período eleitoral. Na campanha de 1998, encerrada ainda no primeiro turno, o presidente e candidato à reeleição Fernando Henrique Cardoso (PSDB) não compareceu aos confrontos na TV. O debate tem mediação do jornalista Ricardo Boechat e se compõe de cinco blocos. No quarto, em vez do confronto direto dos adversários, jornalistas farão perguntas aos presidenciáveis. No primeiro turno, os presidenciáveis participaram de três debates na TV, todos sem a presença de Lula: na Bandeirantes em 14 de agosto, na Gazeta em 13 de setembro e na Globo em 29 de setembro. Até o momento, está confirmada a realização de um segundo debate no segundo turno, na Globo, em 27 de setembro.

Eleição mostra que o 'rouba, mas faz' ainda é aceito, diz ONG


Fonte: BBC Brasil

O escândalo do dossiê pode ter prejudicado a votação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas os resultados gerais das eleições do início de outubro indicam que a mentalidade do “rouba, mas faz” ainda tem uma forte aceitação no eleitorado brasileiro. A avaliação foi feita em entrevista à BBC por Silke Pfeiffer, diretora regional das Américas da Transparência Internacional, organização que se dedica ao combate à corrupção. “Se olharmos o comportamento dos eleitores em relação a deputados, senadores, etc., não podemos dizer que os eleitores puniram candidatos com acusações de corrupção”, diz ela. “Quase 20% de todos os candidatos a deputados federais eram acusados de corrupção, o que é um número dramático”, afirma. “Esperávamos que os eleitores brasileiros punissem sistematicamente esse tipo de comportamento, mas isso não tem acontecido.” Pfeiffer cita como exemplos os casos do ex-presidente Fernando Collor de Mello, afastado da Presidência em 1992 após um escândalo de corrupção e que foi eleito no domingo ao Senado por Alagoas, e do ex-governador Paulo Maluf, que esteve preso no ano passado acusado de lavagem de dinheiro e corrupção e que foi eleito deputado federal com a maior votação individual do país. “Acho que os eleitores estão cientes dos problemas de corrupção, mas há uma mentalidade muito perigosa de ‘rouba mas faz’. Isso é realmente muito perigoso e precisa ser combatido”, avalia Pfeiffer.

'Rouba, mas faz miséria' - Para ela, é necessário “mostrar aos eleitores que a corrupção não é um mal necessário e que pode ser combatida”. “Temos que mostrar que ‘rouba, maz faz’ significa na verdade ‘rouba, mas faz miséria’”, diz. Para a representante da Transparência, o combate à corrupção é essencial para permitir o combate aos demais problemas que países como o Brasil enfrentam, como a pobreza, a violência e a geração de empregos. “São bilhões de dólares de recursos perdidos. O governo precisa ser pressionado para entender que tem um claro interesse em combater a corrupção se quiser resolver as outras questões”, afirma Pfeiffer.

Pressão - Para ela, a pressão dos eleitores é importante para mudar a situação, mas também é possível haver pressão externa. “Várias pesquisas internacionais já mostraram que a corrupção afasta investimentos”, comenta ela. Além disso, avalia Pfeiffer, os organismos internacionais de financiamento deveriam favorecer os atores sociais comprometidos com o combate à corrupção. “As agências de financiamento deveriam ficar mais atentas a quem emprestam o dinheiro e ter meios de controle. Há muitos meios para moldar a ajuda internacional e recompensar aqueles que realmente têm interesse em mudar alguma coisa. Desta forma, pode-se gerar incentivos para mudanças”, afirma. Para ela, o atual governo não adotou medidas para punir e prevenir a corrupção. “O combate à corrupção é sempre um grande slogan em campanhas eleitorais e serviu em campanhas eleitorais prévias de Lula”, diz ela. “Ele até mesmo assinou comprometimentos muito concretos com a Transparência Brasil (seção brasileira da Transparência Internacional), mas implementou realmente muito poucos deles”, afirma. Conheça o projeto Excelências da ONG: Transparência Brasil.

A Volta dos que Não Foram: Paulo Maluf


É surpreendente, o nível de consciência do eleitorado de São Paulo. O país inteiro sofreu um sobressalto ao saber da vitória do candidato Paulo Maluf (PP), eleito Deputado Federal naquele Estado, e ainda, entre os mais votados. Mesmo considerando todo o seu passado controverso. O ex-prefeito de São Paulo torna-se o grande puxador de votos nestas eleições no Estado. Maluf conquistou 739.827 votos. A frente de Celso Russumanno (PP), Clodovil (PTC) e Eneas (Prona).

Perfil - Paulo Salim Maluf (São Paulo, 3 de setembro de 1931 -) é um empresário e político brasileiro. Foi prefeito de São Paulo e governador do estado de São Paulo. Atual membro do Partido Progressista (PP). Político populista, conseguiu obter muitos investimentos para o Estado no período militar. Entrou para a politica através do movimento estudantil da Universidade de São Paulo, quando, durante o curso de engenharia civil pela Escola Politécnica, fez parte do Grêmio Estudantil. Em 1964, tornou-se vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo. Tomou posse em 30 de março, um dia antes da queda do presidente João Goulart. O sogro de Maluf era um dos líderes do Ipes, órgão que articulou o golpe.

Sua carreira política decolou graças à amizade com o general Artur da Costa e Silva e sua mulher Iolanda Costa e Silva. Com a "eleição" do general - que era o então chefe da chamada "linha dura" do regime militar - para presidente pelo Congresso Nacional em 1967, Maluf foi indicado para a presidência da Caixa Econômica Federal em São Paulo nos anos de 1967 e 1968. Maluf foi nomeado prefeito (biônico) de São Paulo para o período de 1969 a 1972. O mandato de Maluf apresentou ao eleitores o que viriam a ser seus traços característicos: o autoritarismo; sua ligação com os setores mais linha-duras do regime e do empresariado; sua visão futurista e sua preocupação com a infra-estrutura da cidade, caracterizada nas obras realizadas por toda São Paulo, isso sempre pesa nas eleições em que concorre.

Sua gestão foi responsável por dezenas de vias expressas elevadas, sessenta viadutos e pelas avenidas marginais dos rios Pinheiros e Tietê, por onde trafegam atualmente mais de setecentos mil veículos por dia. Essas obras evitaram o caos no trânsito da cidade, que, na época, possuía uma frota de apenas 500 mil veículos. Hoje são mais de cinco milhões (um automóvel para cada dois habitantes). Maluf acabou conquistando um eleitorado cativo e ser uma presença permanente na política de São Paulo, suscitando a existência de um movimento de massa em torno de sua pessoa, que veio a ser denominada de Malufismo. Enquanto corrente de opinião política, o malufismo caracterizou-se como uma forma de populismo de direita, exaltando o empreendedorismo individual corporificado no arrivismo do seu líder. Na gestão seguinte ao término de seu mandato de prefeito, Maluf foi secretário de Transportes da prefeitura de São Paulo (1971-1974). Durante esse período, ajudou na expansão do metrô. Maluf nunca trocou de partido, embora a sigla tenha mudado ao longo dos anos: de Arena para PDS, que mudou para PPR, que virou PPB, e que hoje é PP (Partido Progressista).

Derrotas - Em 1982, depois de atuar como Governador de São Paulo, disputou uma vaga de deputado federal; foi eleito com 672.629 votos, sagrando-se o segundo deputado federal mais votado da história do país. Na Câmara (1983-1986), articulou sua primeira candidatura à Presidência da República. Em 1984 votou contra a emenda que propunha as eleições diretas. Perdeu a Presidência para Tancredo Neves. Na disputa pelo governo do estado perdeu em 1986 para Orestes Quércia e ficou em terceiro lugar. Em 1988, liderou as pesquisas a prefeito de São Paulo até a última semana, quando foi superado por Luiza Erundina do (PT). Em 1989, na primeira eleição direta para presidente após a ditadura, Maluf tenta de novo a Presidência, mas ficou em 5º lugar, perdendo para Fernando Collor de Mello (PRN). Em 1990 perdeu para Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB) no segundo turno, novamente disputando o Governo do Estado.

Retomada - Maluf ganha a eleição para a Prefeitura de São Paulo em 1992, superando Eduardo Suplicy (PT) no segundo turno com 53% dos votos. Nesse último mandato como prefeito, alcançou o maior índice de aprovação da história de São Paulo, com cerca de 93%. Essa porcentagem gigantesca deveu-se, principalmente, aos projetos sociais implantados por Maluf, como o Cingapura e o Leve Leite, além da reestruturação do sistema de saúde através do PAS. Em 1996, graças a sua popularidade na época, conseguiu eleger Celso Pitta para sucede-lo na prefeitura. Pouco depois, Pitta e Maluf viraram inimigos políticos e a péssima atuação de Pitta à frente do cargo acabou por prejudicar a imagem de Maluf.

Queda Livre - Em 1998, perdeu para Mário Covas (PSDB) no segundo turno para o governo do estado de São Paulo. Em 2000 perdeu a prefeitura no segundo turno para Marta Suplicy (PT), que teve 58,51% dos votos. Em 2002, perdeu também na votação final para Geraldo Alckmin (PSDB), nas eleições para o governo de São Paulo. Nas eleições municipais de 2004 ficou atrás de José Serra e Marta Suplicy, totalizando 11,91% dos votos, seu pior desempenho na disputa da prefeitura paulistana. Preso em 2005, acusado de intimidar uma testemunha, permaneceu na cárcere sede da Polícia Federal de São Paulo de 10 de setembro a 20 de outubro de 2005(por 40 dias). Este episódio ocorreu após as graves denúncias de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção e crime contra o sistema financeiro (evasão fiscal). O STF julgou que, em decorrência da idade de Paulo Maluf, sua saúde seria frágil para permanecer preso, autorizando assim a sua saída da prisão. Os jornais denunciaram à época que apesar da saúde frágil, Maluf no dia seguinte foi encontrado comendo pastéis e tomando chope em Campos do Jordão.

O Superior Tribunal de Justiça condenou, em 2006, Paulo Maluf a pagar uma multa de R$1,2 milhão pela contratação irregular da TV Globo para cobrir a Corrida de São Silvestre. A Justiça brasileira possui uma série de documentos que indicam uma movimentação de US$ 446 milhões em contas em nome de Paulo Maluf no exterior. Tendo, inclusive, seu genro admitido à Justiça que movimentou recursos ilegais nestas contas. Numa matéria do jornal O Estado de S.Paulo (SP) de 10 de setembro de 2005, fala-se que Paulo Maluf já enfrentou mais de 150 processos, no entanto, até aquele momento não sofreu qualquer condenação. A seguir, uma lista com os principais processos ainda em trâmite legal:

No Supremo Tribunal Federal responde por: Ato lesivo ao patrimônio público (Recurso Extraordinário 479887);
Acusação de fazer propaganda pessoal ao usar na prefeitura o logotipo de sua campanha eleitoral (Recurso Extraordinário 242546).

No Superior Tribunal de Justiça responde por:

Improbidade administrativa (Recurso Especial 848564);
Dano ao meio ambiente (Recurso Especial 793200);
Ação Civil Pública por improbidade administrativa (Recurso Especial 793197);
Ação civil pública por improbidade administrativa (Recurso Especial 782841);
Ação Civil Pública por Improbidade Administrativa (Recurso Especial 765985);
Ação civil pública por dano ao patrimônio público (Recurso Especial 763125).

Obs:Para detalhes, acesse o endereço: http://www.stj.gov.br/webstj/Processo/Justica/default.asp e entre com o número do recurso que está entre parênteses.

No Ministério Público Estadual de São Paulo: Dois processos sobre suposto desvio de dinheiro na construção da avenida Águas Espraiadas tramitam na Promotoria da Cidadania do Ministério Público Estadual de São Paulo.

Na Fazenda Pública: Devido ao processo cível que tramita na quarta Vara da Fazenda Pública todos os seus bens foram bloqueados.

Para mais detalhes sobre a carreira política e as acusações sobre Paulo Maluf, acesse o projeto Excelências da ONG: Transparência Brasil.

O Brasil Reage a Política Antiética nas Urnas


Fonte: Folha

Depois da legislatura mais marcada por escândalos desde a redemocratização do país, o Congresso não será mais o mesmo no ano que vem. Pelo menos a julgar pela saída de antigos ocupantes. Projeção feita pela Folha com base nos dados da apuração indica que, dos 57 acusados nos escândalos do mensalão ou dos sanguessugas que disputaram a eleição, até 45 podem ficar sem um novo mandato.

Desses, só Serys Slhessarenko (PT-MT), que enfrenta processo de cassação no Senado por suposto envolvimento na máfia dos sanguessugas, continuará ocupando um cargo eletivo, pois foi eleita em 2002 e tem mandato até 2011. Na disputa pelo governo de Mato Grosso, ela foi a terceira, com cerca de 11% dos votos. Dos 8 acusados pelo mensalão que enfrentaram o processo até o fim e tentaram continuar na Câmara, não devem ter sucesso Romeu Queiroz (PTB-MG), Professor Luizinho (PT-SP) e João Magno (PT-MG). Esse último ficou marcado por ter proporcionado, ao ser absolvido pela Câmara, a "dança da pizza" de sua colega Angela Guadagnin (PT-SP), outra que não deve ser reeleita.

Nem todos os mensaleiros foram mal nas urnas: o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha deve ser o petista mais votado em São Paulo. Para os envolvidos nos escândalos, renunciar se revelou uma boa estratégia eleitoral. Devem voltar à Câmara Valdemar Costa Neto (PL-SP) e Paulo Rocha (PT-PA), acusados pelo mensalão. Marcelino Fraga (PMDB-ES), suspeito de participação na máfia dos sanguessugas que renunciou, não teve a mesma sorte.

Sanguessugas

Ainda aguardando julgamento da Câmara, os acusados pela CPI dos Sanguessugas se saíram pior do que os mensaleiros: no máximo 14 dos 47 que disputaram as eleições devem conseguir um novo mandato. Alguns tiveram votações irrisórias, como Ricardo Rique (PL-PB), que só foi lembrado por 99 eleitores. Eleitos com a ajuda do 1,5 milhão de votos que Enéas (Prona-SP) teve em 2002 e agora acusados pela máfia dos sanguessugas, Amauri Gasques (PL), Irapuan Teixeira (PP), Ildeu Araújo (PP) e Vanderlei Assis (PP) não conseguiram renovar seus mandatos. Espécie de símbolo do escândalo pelas ambulâncias que circulavam na Paraíba com seu nome impresso, Ney Suassuna (PMDB-PB), perdeu a reeleição para o Senado. Com 43,6% dos votos, foi derrotado por Cícero Lucena (PSDB).

Em Pernambuco, Severino Cavalcanti não foi eleito Deputado Federal. Mas foi por pouco. Ele ainda recebeu expressivos 53 mil votos. Com mais 3 mil votos, ele seria eleito. Ainda há uma luz no final do tunel para a plena consciência política brasileira.

A Volta dos que Não Foram: José Roberto Arruda


Outro lamentável incidente ocorreu no Distrito Federal, o ex-senador e violador do painel do senado, José Roberto Arruda, foi eleito Governador do Estado, com 50,38% dos votos válidos pelo PFL (Partido da Frente Liberal). A obra superfaturada do Fórum Trabalhista do TRT-SP, de onde foram desviados R$ 169,5 milhões, envolveu o então senador Luiz Estevão (PMDB-DF), dono do Grupo OK, que trabalhava com a Incal, justamente a empresa responsável pela construção do prédio inacabado do fórum. Numa decisão histórica, o Congresso cassou o mandato de Luiz Estevão em 27 de junho de 2000. Mas essa votação rendeu outro episódio inusitado tendo como protagonistas o presidente do Senado na época, Antônio Carlos Magalhães, e o líder do governo Fernando Henrique Cardoso, senador José Roberto Arruda, acusados de fraudar o painel de votação eletrônica do Senado, ato que configura quebra do decoro parlamentar, para obter a lista dos votos referentes à cassação de Estevão. Sobe ao palco outra importante personagem, a ex-diretora do Prodasen (Centro de informática e Processamento de Dados do Senado Federal), Regina Borges. Quando o caso ganhou a imprensa, Regina Borges disse que agiu por ordem do senador José Roberto Arruda. Este, por sua vez, negou a princípio, mas depois recuou e disse que o pedido para obter a lista partiu de Antônio Carlos Magalhães. ACM admitiu que teve acesso à lista, mas afirmou que nunca instruiu ninguém para obtê-la. No dia 23 de maio de 2001, o Conselho de Ética do Senado aprovou o relatório que pedia a abertura do processo de cassação dos dois senadores. Assim, Arruda renuncia e faz discurso emocionado na tribuna do Senado para escapar da cassação e salvar seus direitos políticos. Em meio às lágrimas, foi à tribuna do Senado e disse que renunciou para poupar os colegas senadores de um constrangimento maior. Certamente, estava envolvido em algo muito maior, com a participação de muitos dos constrangidos colegas, mas a população só viu a ponta do iceberg. Então, como só acontece no Brasil, a renúncia de José Arruda serviu para inocentá-lo do fato sem maiores consequências e limpou também o nome do eterno senador baiano, Antônio Carlos Magalhães.

02 outubro 2006

A Volta dos que Não Foram: Fernando Collor


Embora seja notório o grau de amadurecimento da população em relação a política brasileira e as escolhas dos eleitores, ainda lamentamos certos acontecimentos como alguns dos resultados das eleições 2006, anunciados a partir da noite de primeiro de outubro.
O "Caçador de Marajás" e dos cheques fantasmas do PC Farias, Fernando Collor de Mello, foi eleito senador de Alagoas com 550 mil votos, correspondendo a 44,04% dos votos válidos pelo PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro). Para quem não se lembra, Collor foi o primeiro presidente civil eleito por voto direto desde 1960 no Brasil. Carioca, fez carreira política em Alagoas. Elegeu-se deputado federal pelo PDS (Partido Democrático Social), em 1982. Pelo PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), foi eleito governador de Alagoas em 1986. Foi afastado da Presidência da República em 2 de outubro de 1992 em meio a denúncias de esquemas de corrupção. Hoje fazem exatamente 14 anos que ocorreu esse histórico incidente. Renunciou à Presidência da República em 27 de dezembro do mesmo ano.

Por trás do jeito Collor, do "aquilo roxo", montava-se um esquema de corrupção e tráfico de influência que veio à tona em seu terceiro ano de mandato. Em maio de 1992, Pedro Collor concedeu entrevista na qual acusava o tesoureiro da campanha presidencial de seu irmão, o empresário Paulo César Farias, de articular um esquema de corrupção de tráfico de influência, loteamento de cargos públicos e cobrança de propina dentro do governo. O chamado esquema PC teria como beneficiários integrantes do alto escalão do governo e o próprio presidente. No mês seguinte, o Congresso Nacional instalou uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o caso. Durante o processo investigatório, personagens como Ana Accioly, secretária de Collor, e Francisco Eriberto, seu ex-motorista, prestaram depoimento à CPI confirmando as acusações e dando detalhes do esquema. Um dos expedientes utilizados por PC era abrir contas "fantasmas" para realizar operações de transferência de dinheiro _arrecadado com o pagamento de propina e desviado dos cofres públicos_ para as contas de Ana Accioly. Além disso, gastos da residência oficial de Collor, a Casa da Dinda, eram pagos com dinheiro de empresas de PC Farias. Aprovado por 16 votos a 5, o relatório final da CPI constatou também que as contas de Collor e PC não foram incluídas no confisco de 1990. Foi pedido o impeachment do presidente. Em agosto, durante os trabalhos da CPI, a população brasileira começou a sair às ruas para pedir o impeachment. Com cada vez mais adeptos, os protestos tiveram como protagonista a juventude, os "cartas-pintadas", que pintava no rosto "Fora Collor", com um ele verde e o outro amarelo, e "Impeachment Já". Em votação aberta, após tentativa de manobra do presidente para uma sessão secreta, os deputados votaram pela abertura de processo de impeachment de Collor. Foram 441 votos a favor (eram necessários 336), 38 contra, 23 ausências e uma abstenção. Collor renunciou ao cargo, mas com o processo já aberto, teve seus direitos políticos cassados por oito anos, até 2000.

01 outubro 2006

Teses Equivocadas Sobre o Voto em Lula


Fonte: Carta Capital

Cinco idéias falsas que impedem a adequada compreensão de como se formaram as intenções a favor da reeleição - Por Marcos Coimbra

A íntegra da pesquisa CartaCapital/Vox Populi pode ser encontrada na edição impressa.

A quinta rodada da pesquisa CartaCapital/Vox Populi, realizada, entre 16 e 19 de setembro, a apenas dez dias da eleição, confirma os principais resultados das que fizemos nas últimas semanas, daqueles de nossa rodada anterior, nos dias 26 e 27 de agosto, e das realizadas por outros institutos no mesmo período: o favoritismo de Lula e as grandes chances de ele vencer as eleições no primeiro turno.

O favoritismo do presidente permanece e até aumenta, se consideramos que o tempo é cada vez mais curto para seus adversários. Com três quartos do horário eleitoral já transcorridos, não houve qualquer redução de sua vantagem sobre a soma das intenções de voto nos demais candidatos. Em agosto, contra os 50% de Lula, somavam 36% seus adversários; nesta última pesquisa, ele tem 51% e os outros, juntos, 34%.

Por outro lado, reforçou-se a tendência à consolidação das intenções de voto em Lula, que vinha acontecendo desde os primeiros dias, após o começo do horário eleitoral: no fim de agosto, a relação entre voto espontâneo e estimulado já era muito alta, de 86%, e agora chega a 90%, sugerindo que apenas um em cada dez eleitores que pensam votar Lula é “menos definido”, o que se confirma com os 86% que afirmam estar “decididos e não pretendem mudar de idéia” sobre esse voto.

Lula está melhor hoje que, por exemplo, Fernando Henrique em meados de setembro de 1998, quando faltavam poucos dias para a sua reeleição. Em pesquisa nossa de então, FHC tinha 41% na espontânea e 49% na estimulada, índices inferiores, ainda que pouco, aos que Lula alcança nesta pesquisa.

Será que os acontecimentos dos últimos dias, com as novas trapalhadas de petistas dentro e fora do governo, vão mudar esse favoritismo? Será que o “dossiê” contra Serra, com suas ridículas maquinações e personagens, vai atingir o presidente?
Pode-se dizer, com segurança, que, passados os primeiros três dias com o assunto em pauta, nada ocorreu. Se daqui para a frente algo vai acontecer, só nos resta esperar para saber. Entretanto, somos livres para especular.

Pessoalmente, acredito que Lula continua favorito para ganhar as eleições no dia 1º de outubro, pela simples razão de que ele tem já, por tudo que as pesquisas indicam, um número de eleitores decididos amplamente suficiente para isso. Ou seja, as pessoas que dizem ter certeza de que vão votar em Lula bastam, mesmo se desistirem todos os que apenas quando estimulados optam por seu nome, chocados pelo assunto do “dossiê”.
Os “decididos” por Lula chegaram a essa conclusão depois de um longo período de consideração, que foi amadurecendo desde quando, com o “mensalão”, tiveram de pensar se era mesmo em Lula que iriam votar nas eleições de 2006. Para chegar à conclusão que dizem ter chegado, tiveram de pensar muito e avaliar denúncias até mais graves que as de hoje, pois envolviam diretamente o governo e pessoas muito mais centrais que o submundo atualmente em discussão. Se aqui chegaram “firmes”, não parece ser pelo que estão ouvindo agora, quando faltam dez dias para a eleição, que vão mudar. Tudo isso, é claro, se forem as que conhecemos as “novas denúncias”.

Talvez seja a hora, então, de nos perguntarmos qual a natureza do voto em Lula, porque tanta gente diz pretender votar nele, tanta, que tudo aponta para sua vitória em primeiro turno. Mais que um exercício acadêmico, isso pode ser essencial para que saibamos, como País, tirar das eleições que se avizinham aprendizagem e conseqüências, seja para o próximo quadriênio, seja para o futuro.

Parece-me que o primeiro passo é desfazer alguns equívocos que, a meu ver, têm impedido a adequada compreensão do que são e de como se formaram as intenções de voto em Lula. São cinco as principais teses equivocadas, que circulam quase desimpedidas no discurso de ampla porção de nossas elites, na sociedade e entre “formadores de opinião”:

1ª O voto em Lula é um voto “cínico”
É impressionante como essa suposição está presente nas opiniões e avaliações sobre a provável vitória de Lula este ano. Desde leigos a pessoas que se acham muito informadas, passando por eleitores que, eles próprios, pensam em votar no presidente, forma-se o sentimento de que é o “cinismo” do eleitor que explica o fato de Lula estar à frente.
Subjacente a essa idéia, parece estar o argumento que, para quem pretende votar em Lula, ética, moral, respeito às leis, são palavras sem sentido. Aceitar Lula é, assim, aceitar o vale-tudo e o jogo sujo, seja por concordar com ele, seja por não acreditar que exista alternativa.

Quem vê os eleitores de Lula dessa maneira não tem idéia de como foi traumático, para a quase totalidade deles, o “mensalão” e tudo que com ele veio à tona. Aquelas denúncias levaram os eleitores a uma revisão profunda de suas opiniões sobre o presidente e o PT, com a qual se debateram durante meses. Quem, como nós, acompanhou esse processo, através de inúmeras pesquisas, qualitativas e quantitativas, sabe que muitos desses, incluindo eleitores que sempre haviam votado Lula, hoje estão pensando em votar nos demais candidatos. Outros, como as mesmas pesquisas mostram, decidiram-se por Lula, mas nunca ignorando ou menosprezando o “mensalão”.

O voto em Lula não é, portanto, um voto de quem “não está nem aí” para a ética. Lula está sendo votado apesar do “mensalão” e não porque o “mensalão” é irrelevante para seus eleitores.

2ª O voto em Lula é um voto “burro”
Quando procuram “explicar” as razões de uma vitória de Lula, muitas pessoas em nossa elite ficam perplexas com a “burrice” do eleitor, que não consegue entender o “mensalão” e “tudo o que ele quer dizer” sobre Lula e seu governo. A isso se agrega a visão de que eleitores educados não votam Lula, sendo apenas entre analfabetos que está sua intenção de voto.

Os dados dessa e de muitas outras pesquisas não mostram isso, ao contrário. Lula não perde de Alckmin em nenhum nível de escolaridade e, em seu pior desempenho, empata com ele entre pessoas com escolaridade mais alta. Ou seja, há tantos eleitores com educação superior pensando em votar Alckmin, quanto em Lula.

Quanto ao argumento da “incapacidade de entender o mensalão”, o que estamos vendo é que muitos eleitores, sem desconhecê-lo (e sem achar que é irrelevante), apenas não fizeram aquilo que a oposição a Lula, ao que parece, queria que fizessem: que julgassem Lula e seu governo com o único critério do “mensalão”. Assim procedendo, ou seja, se recusando a uma avaliação tão simples e unidimensional, revelaram-se capazes de um julgamento mais “sofisticado” e complexo, tudo menos “burro”.

3ª O voto em Lula é um voto “manipulado”
Uma terceira maneira de desqualificar o voto de eleitores que pensam em Lula é dizer que é um voto “manipulado” por mistificações de vários tipos, da comunicação e do marketing, mas, especialmente, do Bolsa-Família, o “mensalinho” dos muito pobres, como se chegou a dizer.

Essa tese não se sustenta em nada de sólido. As evidências de que o Bolsa-Família “explica” o voto em Lula nas famílias beneficiárias, ao contrário, são muito frágeis. Para sustentar o argumento, seria necessário mostrar, por exemplo, que eleitores de famílias análogas, mas onde não há beneficiários, votam de maneira significativamente diferente, coisa que, até agora, não foi demonstrada com adequado rigor.

Se, no plano individual, a prova é, no mínimo, inconclusiva, no plano coletivo é menos ainda. Se fosse verdade que o programa tem esse tipo de impacto, seria razoável esperar que, em cidades onde a cobertura é maior, a propensão a votar em Lula aumentasse, seja por haver mais beneficiários diretos, seja por haver ganhos indiretos (no comércio, especialmente) que seus habitantes creditassem a ele.

Com base em pesquisas como as que fazemos, nós e os demais institutos, não se pode dizer isso, nem de longe. O que temos, quando classificamos os municípios incluídos em nossa amostra em categorias de cobertura, indo de “baixa”, “média”, “alta” a “muito alta”, é que todos os tipos de município tendem a votar de maneira semelhante. Ou seja, não há qualquer relação entre viver em municípios de “baixa” ou “muito alta” cobertura e votar ou não votar em Lula.

O Bolsa-Família é importante fator de voto em Lula, ainda que menos, para o eleitorado popular, que a política de salários e de preços que, em seu entender, o governo pratica e que é boa. Ambos são uma confirmação do que mais esperavam de Lula como presidente, por tudo o que ele tinha sido na vida: alguém que ia fazer diferença exatamente aí, nas condições de vida dos mais pobres. O Bolsa-Família é muito mais significativo como símbolo, do que como a “esmolinha” que muitos imaginam que é. O programa é a promessa cumprida, o compromisso básico que Lula honrou.

4ª O voto em Lula é um voto “nordestino”
Das teses não substanciadas sobre o voto em Lula, a que mais facilmente se desmente é a que afirma que “Lula ganha por causa do Nordeste”, por isso se entendendo que sua vitória seria uma oposição entre o Brasil “moderno” e o “atrasado”. Na fantasia de alguns articulistas, trazendo riscos de chegar à “ruptura” entre os dois.

Uma simples observação da tabela abaixo mostra que essa idéia não se sustenta:
Em outras palavras e ao contrário do que imaginam muitos: Lula parece ter condições de vencer as eleições no primeiro turno, com ou sem o voto do Nordeste. É fato que ele tem muitos votos na região, mas também é verdade que ele é votado, e muito, no que essas pessoas pensam ser o Brasil “moderno”.

5ª O voto em Lula é um voto de “miseráveis”
A última de nossas teses equivocadas (que poderiam ser até mais, tantas são as concepções sem fundamento atualmente em curso) é outra em que nossa elite parece acreditar piamente: Lula vai ser eleito pelos “miseráveis” e contra a vontade do resto do País.

A base para esse equívoco é a apressada leitura de resultados de pesquisas, amplamente propagadas por parte da imprensa, que mostrariam que Lula perde “de muito” nas classes de renda mais alta, mas compensa esse “fracasso” com alta intenção de voto entre os muito pobres. Entre esses (e aí este se liga ao equívoco anterior), Lula vence, pois “comprou” seu voto com as migalhas que distribui.

Qualquer profissional de pesquisa sabe que tirar conclusões de subamostras muito limitadas não é admissível. Na maior parte das vezes, no entanto, é isso o que ocorre: em uma amostra nacional com 2 mil entrevistas (qualquer que seja o tamanho de eventuais expansões estaduais), entrevistados de famílias com mais de dez salários mínimos de renda, são cerca de cem, se não se fizer uma cota específica. Em um estrato desse tamanho, a margem de erro pode passar de 30%, tornando qualquer interpretação puro exercício de fantasia.

Para indicar quão frágil é o argumento, podemos ver na tabela abaixo o resultado das respostas sobre intenção de voto entre pessoas com esse nível de renda, em uma amostra cumulativa com cerca de mil entrevistados, ou seja, com tamanho adequado:
O que os dados mostram é que Lula e Alckmin estão muito próximos na intenção de voto desse tipo de eleitor, a rigor empatados, na margem de erro, nacionalmente. Não há, portanto, razão para dizer que o voto em Lula é “miserável”. Considerando apenas os segmentos com renda relativamente mais elevada, ele tem tantos votos quanto o candidato do PSDB.

Chico Buarque: Lucidez em Tempo de Eleição


A cada uma de suas entrevistas, o compositor e cantor Chico Buarque de Holanda sempre surpreende por sua lucidez e enorme coerência. Agora, no lançamento do seu novo CD, Carioca, ele novamente brilhou ao falar sobre a situação política brasileira. A direita deve ter ficado furiosa, com saudades dos tempos da ditadura militar que o perseguiu e censurou; a esquerda "rancorosa" deve ter ficado ressentida com seus irônicos comentários; já os setores da sociedade que, mesmo críticos das limitações do governo Lula, não perderam a perspectiva, ganharam novo impulso criativo para a sua atuação. Mas é melhor deixar o poeta falar, pinçando trechos das suas entrevistas na revista Carta Capital e no jornal Folha de S.Paulo:

Sobre a crise política: É claro que esse escândalo abalou o governo, abalou quem votou no Lula, abalou, sobretudo o PT. Para o partido, esse escândalo é desastroso. O outro lado da moeda é que disso tudo pode surgir um partido mais correto, menos arrogante. No fundo, sempre existiu no PT a idéia de que você ou é petista ou é um calhorda. Um pouco como o PSDB acha que você ou é tucano ou é burro (risos). Agora, a crítica que se faz ao PT erra a mão. Não só ao PT, mas principalmente ao Lula. Quando a oposição vem dizer que se trata do governo mais corrupto da história do Brasil é preciso dizer "espera aí".

Quando aquele senador tucano canastrão diz que vai bater no Lula, dar porrada, quando chamam o Lula de vagabundo, de ignorante, aí estão errando muito a mão. Governo mais corrupto da história? Onde está o corruptômetro? É preciso investigar as coisas, sim. Tem que punir, sim. Mas vamos entender melhor as coisas. A gente sabe que a corrupção no Brasil está em toda parte. E vem agora esse pessoal do PFL, justamente ele, fazer cara de ofendido, de indignado?!. Não vão me comover...

Preconceito de classe: O preconceito de classe contra o Lula continua existindo - e em graus até mais elevados. A maneira como ele é insultado eu nunca vi igual. Acaba inclusive sendo contraproducente para quem agride, porque o sujeito mais humilde ouve e pensa: "Que história é essa de burro!?" "De ignorante !? " "De imbecil !?". Não me lembro de ninguém falar coisas assim antes, nem com o Collor. "Vagabundo! Ladrão! Assassino!" - até assassino eu já ouvi. Fizeram o diabo para impedir que o Lula fosse presidente. Inventaram plebiscito, mudaram a duração do mandato, criaram a reeleição. Finalmente, como se fosse uma concessão: deixaram Lula assumir. "Agora sai já daí, vagabundo !". É como se estivessem despachando um empregado a quem se permitiu o luxo de ocupar a Casa Grande. "Agora volta pra senzala!". Eu não gostaria que fosse assim. Eu voto no Lula!

A economia não vai mudar se o presidente for um tucano. A coisa está tão atada que honestamente não vejo muita diferença entre um próximo governo Lula e um governo da oposição. Mas o país deu um passo importante elegendo Lula. Considero deseducativo o discurso em voga: "Tão cedo esses caras não voltam, eles não sabem fazer, não são preparados, não são poliglotas". Acho tudo isso muito grave. Hoje eu voto no Lula. Vou votar no Alckmin? Não vou. Acredito que, apesar de a economia estar atada como está, ainda há uma margem para investir no social que o Lula tem mais condições de atender. Vai ficar devendo, claro. Já está devendo. Precisa ser cobrado. Ele dizia isso: "Quero ser cobrado, vocês precisam me cobrar, não quero ficar lá cercado de puxa-sacos". Ouvi isso dele na última vez que o vi, antes dele tomar posse, num encontro aqui no Rio.

Sobre o PSOL: Percebo nesses grupos um rancor que é próprio dos ex: ex-petista, ex-comunista, ex-tudo. Não gosto disso, dessa gente que está muito próxima do fanatismo, que parece pertencer a uma tribo e que quando rompe sai cuspindo fogo. Eleitoralmente, se eles crescerem, vão crescer para cima do PT e eventualmente ajudar o adversário do Lula.

Papel da mídia: Não acho que a mídia tenha inventado a crise. Mas a mídia ecoa muito mais o mensalão do que fazia com aquelas histórias do Fernando Henrique, a compra de votos, as privatizações. O Fernando Henrique sempre teve uma defesa sólida na mídia, colunistas chapa-branca dispostos a defendê-lo a todo custo. O Lula não tem. Pelo contrário, é concurso de porrada para ver quem bate mais.